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Perturbação de espectro do Autismo: o que é, sinais e possíveis intervenções

O Autismo é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento, que surge numa fase muito precoce da vida da criança. Foi diagnosticado pela primeira vez por Kanner, nos anos 40, segundo o autor, as crianças apresentavam, após um período de vinculação e desenvolvimento normativo, alterações graves na socialização, no comportamento e na comunicação.


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Ao longo dos últimos tempos a classificação tem sido clarificada, recorrendo ao conceito de espectro, esta ideia surge na sequência da dificuldade sentida em distinguir claramente os subtipos: Perturbação autística, Síndrome de Asperger, Perturbação Global do desenvolvimento sem outra especificação, “de facto o autismo caracteriza-se por um espectro que vai desde as alterações mais graves, como é o caso do autismo de Kanner, às mais leves da socialização e do comportamento”.


A PEA pode ser identificada precocemente durante os primeiros anos de vida. Após os 6 meses, podem começar a observar-se alguns sinais de alerta, contudo, o diagnóstico revela maior estabilidade a partir dos 3 anos, o que corresponde á etapa do desenvolvimento onde a criança começar a ter interesse pelo outro, pela relação/socialização.


Os principais sinais de alerta são:


A NÍVEL SOCIAL:

- Não olhar nos olhos

- Não responder quando chamam pelo nome

- Parece não ouvir

-Isolamento/ausência de relacionamento

- Recusa contacto físico

- Não usa gestos (ex: apontar, olá, adeus )

- Dificuldade em imitar

- Produzir vocalizações atípicas

- Não corresponder/brincar a jogos interativos

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- Não compreender quando se fala com ele

- Leva o adulto pela mão e não realiza pedidos verbalmente

- Utiliza linguagem idiossincrática (linguagem própria)

- Repetir o que lhe dizem (ecolália)


A NÍVEL COMPORTAMENTAL

- Fazer birras excessivas

- Alinhar, empilhar ou rodar objetos de forma compulsiva e repetitiva

- Dificuldade em brincar com brinquedos novos e diferentes

- Dificuldades de adaptação a novas situações, atividades

- Dificuldade em gerir mudanças (rotina)

- Movimentos repetitivos (andar em bicos de pés, balancear, rodopiar, flapping, saltinhos, girar objetos, cheirar ou tocar em objetos de forma pouco usual)

- Excessiva sensibilidade sensoriomotora


Os sinais de alerta mencionados devem ser considerados, contudo não revelam por sí só a existência de autismo. Para que tal seja confirmado (ou descartado) é necessário atender a um conjunto de critérios diagnósticos nomeadamente (segundo o DSM-V)


Défices persistentes na comunicação e na interação social em vários contextos, manifestados pelas seguintes alterações:

Critério A

Défices na reciprocidade social e emocional que pode ir desde  aproximação social desajustada e falha nos turnos de conversação, a reduzida partilha de interesses, emoções e afetos, a falha em iniciar ou responder a interações sociais ;

Défice nos comportamentos comunicativos não verbais utilizados na interação social, que podem variar desde a fraca integração da comunicação verbal e não verbal, a alterações no contacto ocular e linguagem corporal; défice na compreensão e uso da comunicação não verbal, assim como ausência total de expressão facial ou gestos;

Défice em estabelecer e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento que se podem traduzir por dificuldade na adequação do comportamento na mudança de diferentes contextos sociais; dificuldade na partilha de jogo imaginativo; dificuldade em fazer amigos; aparente falta de interesse nas pessoas;


Padrões de comportamento, interesses ou atividades restritas e repetitivas- manifestadas pelo menos duas das seguintes alterações:

Critério B

Discurso, movimentos motores e uso de objetos repetitivo ou estereotipado – estereotipias motoras, alinhamento de brinquedos, ecolalia, rotação de objetos, frases idiossincráticas;

Resistência excessiva às mudanças, aderência excessiva a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal e não verbal, que se podem traduzir por: stress extremo a pequenas mudanças, dificuldade com as transições; padrões de pensamento rígidos; rituais de saudação;

Interesses fixos e muito restritos que são anormais na intensidade e no foco, que se traduzem por: ligação ou preocupação excessiva a objetos pouco usuais; interesses recorrentes e excessivamente circunscritos;

Hiper/ Hipo reatividade a estímulos sensoriais ou interesse pouco usual em aspetos sensoriais do ambiente, que se traduzem por: aparente indiferença à dor/temperatura; resposta adversa a sons específicos ou texturas; toque ou cheiro excessivo de objetos; fascinação por luzes ou objetos que rodam.


Os sintomas devem estar presentes num período precoce do desenvolvimento

Critério C

Causam perturbação significativa na vida do sujeito

Critério D

Estas alterações não são explicadas por outra patologia

Critério E


É ainda defendida a necessidade de especificar o nível de gravidade para os critérios A e B, assim como a existência de comorbilidade. 


O Nível de gravidade divide-se em 3 níveis:


Nível 1- necessidade de apoio;

Nível 2- necessidade de apoio substancial;

Nível 3 – necessidade de muito apoio.



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Estes quantificadores devem ser utilizados para especificar separadamente cada uma das áreas (socialização e comportamento)sendo utilizados para definir melhor o plano terapêutico, quanto ao tipo de frequência de terapias que a criança necessita, bem como os objetivos da intervenção a serem definidos,  a necessidade de intervenção farmacológica, etc.


A Perturbação do Espectro do Autismo é, segundo as investigações geneticamente determinada, na maioria dos casos sendo também bastante importante o papel do contexto em que a criança está inserida.


O diagnóstico deve ser realizado por um técnico especializado (psicológico, pediatra, pedopsiquiatra) devendo ser discutido em equipa multidisciplinar de modo a avaliar as diversas áreas em análise. A avaliação pode passar pela aplicação de diversos instrumentos de rastreio (M-Chat, AOSI) ou diagnóstico (CARS, Escala de avaliação do Desenvolvimento infantil de Ruth Griffiths, Vinneland) que nos permitem ter uma visão mais completa sobre a criança, as suas competências e fragilidades.


No que se refere à intervenção deve ser multidisciplinar e efetuada de modo mais precoce possível. É nos primeiros anos de vida que existe uma maior plasticidade cerebral, será a altura em que se podem observar evoluções mais significativas.



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Junto da criança, existem diversos programas para a PEA, que recorrem a técnicas específicas criadas de modo a responder ás necessidades particulares destas crianças nas diversas áreas (cognição, linguagem, socialização, comportamento, emocional).


A intervenção junto da família torna-se essencial, sobretudo pela dificuldade vivenciada em gerir os diversos desafios que a PEA acarreta. Deve focar-se em vários temas, em função das necessidades avaliadas como: Luto do bebé/filho idealizado; culpabilidade pela problemática do filho; alterações na dinâmica familiar; desgaste pessoas decorrente da instabilidade emocional, comportamental; angústias relativas á área de comunicação e autonomia pessoal; investimento financeiro em terapias. Assim seria importante estabelecer uma relação de confiança com a família, aconselhar com as estratégias que mais se adequem ao caso, conhecimento sobre os direitos sociais existentes.


Considerando a implicação nas diversas áreas de vida, a intervenção na escola é também essencial como forma de potenciar a criança adequações nos processos de aprendizagem. A partir dos 3 anos, todas as crianças que estejam integradas em escolas oficiais estão ao abrigo do Decreto de Lei 54/2018 devendo usufruir de condições como:

a)    Apoio pedagógico personalizado;

b)    Adequações curriculares individuais;

c)    Adequações no processo de matrícula;

d)    Adequações nos processos de avaliação;

e)    Currículo específico individua;

f)     Tecnologias de apoio.



A seleção das condições especiais dependem de vários fatores, nomeadamente a idade da criança, a gravidade da problemática e comorbilidades. Importa, por isso, clarificar que duas crianças com PEA podem usufruir de diferentes condições em função da sua problemática.

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Assim podemos considerar que a criança com Perturbação de Espectro do Autismo tem um impacto significativo tanto na criança, como em todo o seu contexto (familiar, escolar, comunidade) e, por esse motivo, o delineamento de uma intervenção individualizada e multidisciplinar torna-se imprescindível para promover a aquisição/ manutenção de competências e potenciar o bem-estar geral.





Estamos aqui, na PSIKIKA, para o ajudar.

91 425 07 10




Um até já PSIKIKO,

BB.

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