O brincar das crianças é um método lúdico e criativo que permite uma expressão fluida e a recriação da realidade por meio de símbolos. É um método fundamental pois estimula a imaginação e a fantasia da criança, possibilitando a expressão das suas emoções e de perceções vivenciadas nas relações que a criança estabelece com o mundo real.

O brincar caracteriza-se pela capacidade de (re)criar interações com os outros e obter satisfação nessa atividade. A criança pode assumir diferentes personagens, transformar-se em quem ela entender. Ao construir, transformar e destruir, deixa livre o acesso ao seu inconsciente, às suas preocupações e conflitos internos. Através do brincar, do “faz de conta”, a criança comunica as suas experiências de forma simbólica e afetiva, apresentando e representando a realidade à sua maneira.
Sendo o brincar uma atividade prazerosa e divertida para a criança, no qual externaliza e expressa as suas emoções, na brincadeira há um alívio da ansiedade por permitir que as crianças coloquem em ações aquilo que ocupa os seus pensamentos. Através dos brinquedos, a criança consegue expressar o que, de forma verbal, lhe é mais difícil, pois os brinquedos proporcionam alguma distância à realidade e a criança acaba por se sentir mais segura para expressar as suas angústias.

Assim, o brincar permite fazer uma ponte entre o mundo externo e o mundo interno, entre o real e a fantasia, pois dá a possibilidade da criança superar os seus conflitos internos, projetados nas suas brincadeiras, permitindo uma maior probabilidade de emergência de conteúdos inconscientes, onde o brinquedo funciona como instrumento para a criança aprender a lidar da melhor forma com situações traumáticas, através da repetição e ensaio dessas situações no jogo simbólico.
A criança, ao brincar, expressa a sua linguagem através de gestos e atitudes, as quais estão repletas de significados, visto que investe a sua afetividade nessa atividade. Por isso a brincadeira deve ser encarada como algo sério, sendo fundamental para o desenvolvimento
infantil:

·Aos 3 anos: a criança apresenta um tipo de brincadeira mais centrada nela própria, não incluindo tanto o adulto nas mesmas. Geralmente, nesta idade, preferem brincar com carros, comboios, bonecas, animais e nos desenhos representam normalmente rabiscos.
Dos 4 aos 7 anos: há uma maior proximidade com o real e a criança já inclui com mais frequência o adulto nas suas brincadeiras, pedindo inclusive que este tenha um papel mais ativo e participativo nas mesmas.
O brincar relaciona-se ainda com a aprendizagem, já que esta está diretamente relacionada com o desenvolvimento infantil. Brincar é aprender. Na brincadeira, reside a base daquilo que, mais tarde, permitirá à criança aprendizagens mais elaboradas e formais. Algumas das aprendizagens formais interpretadas pelas crianças na escola já têm uma história prévia, isto é, a criança já se deparou com algo idêntico ou relacionado nas suas brincadeiras e experiências vividas. Assim, o brincar auxilia a criança neste processo de aprendizagem, proporcionando situações imaginárias em que ocorrerá o desenvolvimento cognitivo e irá proporcionar, também, uma oportunidade de interação e desenvolvimento de uma relação com os outros, os quais contribuirão para um acréscimo de conhecimento. Dessa forma, as brincadeiras são imprescindíveis para o desenvolvimento infantil e para as aprendizagens das crianças.


Na clínica infantil, o jogo simbólico (brincar), é assim um método valioso para a compreensão, interpretação e elaboração das angústias das crianças que, através de uma diversidade de materiais que a criança utiliza de forma simbólica, consegue dramatizar, representar, comunicar e fantasiar,
permitindo-se atingir uma melhor compreensão das situações externas e testar as suas hipóteses e realidades, procurando e encontrando soluções para as suas ansiedades, dúvidas e problemas, tendo a possibilidade de aprender ativamente a lidar com as suas emoções e fantasias.
Com um até já Psikiko!
J.C.
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