Como posso lidar com o comportamento agressivo do meu filho?
- Psikika

- 14 de out.
- 5 min de leitura
Nos últimos tempos esta tem sido uma das questões mais frequentes trazidas pelos pais à consulta “o meu filho não consegue ouvir um não, bate, morde, arranha, discute com colegas, com professores” estão são apenas alguns dos exemplos mais frequentes.
Comecemos do princípio, afinal o que é um comportamento agressivo?
O comportamento agressivo é um comportamento que tem como base atitudes ou emoções negativas como a raiva, frustração, agressividade, hostilidade, desejo de destruição e que se manifesta pelo incumprimento de regras ou normas sociais nomeadamente através de danos causados em pessoas ou objetos, ameaçar ou provocar dor.

Este comportamento, está presente desde os primeiros anos de vida e geralmente associa-se a um momento de tensão face à contrariedade que nos coloca numa posição de fragilidade e insegurança que reativa os nossos instintos primários de sobrevivência.
O que quer isto dizer?
Quando nos encontramos num momento de elevada frustração, conjugada com uma imaturidade do ponto de vista cognitivo e até mesmo neuronal, ativamos os nossos mecanismos de luta ou fuga, que se manifestam fisiologicamente no nosso corpo e que o preparam para responder a um potencial ataque. “Ataque? Mas não vivemos no neolítico” . Pois não, mas o nosso corpo evolui e adapta-se ao que são as circunstâncias do seu meio envolvente, se há uns milhares de anos atrás a preocupação era a fuga de um leão, talvez hoje a preocupação seja fugir de um miúdo na escola, ou do teste de matemática, e acredite, podem despoletar as mesmas reações no organismo humano.
Posto isto, o importante a reter é que todo o comportamento manifesto tem uma componente interna “invisível” que ocorre em simultâneo e que necessita ser considerada num momento de maior tensão.
De modo a clarificar o comportamento agressivo tenhamos em conta os diversos sinais ou sintomas que podem surgir:
A nível comportamental:
· Destruição de bens, próprios ou de terceiros;
· Insultos;
· Gritos;
· Empurrões a pessoas ou objetos;
· Provocação – física ou verbal
A nível físico
· Respiração acelerada;
· Pele ruborizada;
· Aumento da temperatura corporal;
· Aumento do batimento cardíaco;
· Suor;
· Tensão corporal- muscular, ranger os dentes, punhos cerrados
A nível emocional:
· Mudanças de humor súbitas;
· Agitação;
· Baixa tolerância à frustração;
· Irritabilidade;
· Ressentimento
A nível cognitivo:
· Dificuldades de concentração e atenção;
· Foco excessivo no problema;
· Incapacidade de pensar com clareza;
· Dificuldade na tomada de decisão

Assim e tendo em conta estes fatores, resta-nos pensar em algumas estratégias para nos ajudar, a nós adultos com maturidade cognitiva a ajudar a criança a regular-se e a conseguir lidar com os momentos em que surgem estes sentimentos menos agradáveis.
Algumas das sugestões dadas por psicólogos com experiencia na área infanto-juvenil e com uma abordagem de parentalidade consciente são:
1- Compreender que a criança está num processo de desenvolvimento e aprendizagem de novas competências emocionais e sociais, no momento de testar limites e da contrariedade do que é imposto pela sociedade e pelo adulto. Por esse motivo, devemos ter em consideração o ambiente em que a criança está inserida, essencialmente porque, o comportamento agressivo expressa sempre uma necessidade latente que não está a ser cumprida.
2- A criança, sobretudo durante a primeira infância, tem ainda poucas competências de linguagem, o que faz com que seja difícil comunicar, recorrendo por isso ao corpo (à agressividade) como forma de expressar o que está a sentir. O processo de transição entre a expressão pelo corpo para a expressão por palavras é um processo que leva algum tempo, a criança necessita de consistência e de sentir-se apoiada e regulada, primeiramente pelo adulto, para que possa observar essas estratégias e reproduzi-las futuramente. O papel modelador do adulto é essencial, na média em que, é através, por exemplo, da introdução de nomeações de estados emocionais que a criança aprende o vocabulário emocional, integrando-o e atribuindo um significado ao que sente.
3- A agressividade pode surgir de uma carência, onde a criança experiencia situações adversas/difícil gestão que requerem uma maior atenção, nomeadamente: separação dos pais; nascimento de um irmão; falecimento de alguém significativo; entrada/ mudança de escola; dificuldades em relacionar-se com os pares; dificuldades de aprendizagem; baixa autoestima; etc. Devemos por isso entender que a agressividade surge de um lugar de fragilidade.
4- Não ensinar a criança a bater, isto é não recorrer a punição corporal ou ensinar a defender-se do outro agredindo. Ao ter esta abordagem estamos a ensinar à criança que “bater resolve”, quando o que queremos, na verdade, é que se torne menos agressiva e que adquira estratégias que não a coloquem em conflito.
5- Não devemos tolerar nenhuma situação de ofensa ou desrespeito, seja ela para com o adulto, para com os outros, para com coisas/objetos ou animais. Devemos nestas situações baixar-nos ao nível da criança, segurar as suas mãos, olhar nos olhos e dizer de forma assertiva, mas não ríspida ou agressiva “ não podemos agir ou falar assim, não é adequado, assim não. Como podemos dizer ou fazer de outra forma?”. Se a criança estiver muito ansiosa, não vai ter disponibilidade para o ouvir, nesse caso, deve verbalizar que aquele comportamento não é adequado, permanecer junto da criança, questionar se ela quer que fique com ela até que se acalme ou se prefere que se afaste, que depois retorne quando estiver mais calma. Se a criança não procurar, o adulto deve fazê-lo, deve ouvi-la, acolher, explicar o porque daquele comportamento não ser adequado e oferecer alternativas. Para que, quando se voltar a sentir assim, possa comunicar através da fala o que está a passar-se dentro de si.
6- Aplicar consequências- ATENÇÃO: consequência NÃO É um castigo. Por exemplo, se a criança bate em alguém, vai precisar de “reparar” o comportamento com a pessoa como pedir desculpa, etc. Refletir, em conjunto com a criança sobre o comportamento e considerar, em vez de bater o que podemos fazer? Podemos sair daquele lugar, contar até 20, dizer que não gostamos, etc. A criança precisa de compreender que pode escolher outra resposta/atitude na mesma situação.
7- Ensine atitudes pró-sociais como ajudar e partilhar. No fundo, desenvolver a sensibilidade e a empatia para com o outro, como forma de moderar o comportamento agressivo. Se a criança desenvolve a capacidade de compreender o outro e colocar-se no seu lugar, então não quererá magoá-lo.
8- Escolher o “cantinho”/espaço da raiva, um local escolhido pela criança, onde vai poder expressar a raiva que sente. NÃO É um castigo, nem um espaço para onde é encaminhada, é o local que a criança escolhe para poder canalizar a raiva e frustração sentidas para a poder expressar de um modo adaptado. Este espaço pode ter: almofadas, peluches grandes, barra flutuante, etc. O principal objetivo e redirecionar o comportamento da criança tornando a sua expressão adequada permitindo a libertação da tensão emocional sentida.
9- Abrir a janela para a raiva ir embora- é importante a criança entender que pode sentir raiva, mas acima de tudo que pode escolher o que fazer quando se sentir assim. A ideia da janela aberta é a de libertação do sentimento, é transitório, como uma brisa, sentimos e deixamos seguir o seu caminho não a prendemos dentro de nós.

Sabemos que nem sempre é fácil ter todos estes mecanismos e fatores em consideração no nosso dia a dia, mas pense no que gostava de transmitir ao seu filho e do que, um dia mais tarde, gostaria que ele dissesse sobre a sua educação, ou estilo parental e do impacto que isso tem na sua vida, enquanto adulto.
Estamos aqui, na PSIKIKA, para o ajudar.
91 425 07 10
Um até já PSIKIKO,
BB.




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