Segundo o ACNUR (Agência das Nações Unidas para Refugiados), um refugiado é definido como uma pessoa que transpõe a fronteira nacional por razões de perseguição, podendo a mesma ser de origem racial, religiosa, pertença a um grupo social ou politico em que o sujeito não recebe proteção do seu país de origem. Segundo a investigação estima-se que cerca de ¼ dos refugiados sejam crianças. Como é presumível a situação de refugiado tem consequências a nível psicológico e socio-emocional que colocam os indivíduos em risco de desajustamento.
Nesse sentido, diversos estudos desenvolvidos procuraram compreender os efeitos no bem-estar, constatando a existência de diversas definições de problemas, sendo identificada uma prevalência de Stress Pós-Traumático entre 19 a 54%, depressão entre 3 a 30% e diversos níveis de problemas a nível emocional e comportamental.
Adicionalmente os autores compreenderam a influencia de diversas variáveis nos níveis de sofrimento vivenciado, incluindo fatores demográficos como a idade, o género e o país de origem; fatores pré-migração como a separação das figuras parentais, ferimentos pessoais, integrar um campo de refugiados, tortura ou assassinato de membros familiares e fatores pós migração como a situação de asilo e os níveis de suporte disponíveis.
Neste seguimento, salientam-se diversos meios de apoio a estes indivíduos, nomeadamente as crianças, sendo mobilizados recursos a nível da comunidade, escolar bem como apoios médicos como prevenção ou tratamento da doença com vista a integração dos sujeitos e promoção do ajustamento e bem estar físico e psico-social.
Segundo aponta a literatura são diversas as intervenções disponíveis para aplicação neste contexto. Os autores referem benefícios de terapias como a Terapia de Exposição Narrativa, com recurso a técnicas de exposição com base na abordagem cognitivo - comportamental, consistindo na exposição- em que o sujeito repetidamente fala sobre a sua experiencia traumática de modo a criar habituação; testemunho – indivíduo constrói cronologicamente os seus eventos de vida, reconsolidando e integrando os eventos traumáticos na sua biografia.
Na revisão encontrada, os investigadores referem ainda a Arte-terapia Expressiva cujo objetivo consiste em permitir ao indivíduo explorar os seus sentimentos e processar as emoções associadas às experiências traumáticas de modo a facilitar o crescimento e desenvolvimento emocional, recorrendo a métodos expressivos como a arte, escrita, musicoterapia, drama e desenho. Dos estudos considerados, a intervenção evidencia resultados significativos ao nível da redução de comportamentos de externalização.
No que se refere a Intervenções Multimodais, consistem num modo de intervenção que conjuga princípios de diversas abordagem terapêuticas e teorias psicológicas como forma de responder às necessidades da pessoa refugiada. Os autores referem que os estudos considerados englobam a combinação de técnicas de terapia individual, terapia familiar e terapia de grupo, como é o caso do desenvolvimento de competências sociais. A maioria das intervenções referidas incorporam técnicas de gestão do trauma e do luto associado a experiencias de vida.
Dos estudos considerados foi possível observar a redução da severidade de sintomas de Stress Pós traumático, depressão e ansiedade bem como na diminuição das dificuldades emocionais e comportamentais evidenciadas pelos sujeitos, contudo é salientado pelos investigadores a necessidade de consideração da variável idade nos resultados obtidos.
A literatura aponta também para os benefícios das Intervenções Psicossociais, estas consistem na consideração de várias abordagens terapêuticas conjugadas com atividades e técnicas interpessoais com o principal objetivo de promover o bem-estar.
São ainda referidas intervenções como a Ludoterapia, cuja abordagem psicoterapêutica pretende ajudar a criança a explorar e expressar os seus sentimentos e emoções através do brincar. Os autores constataram que, no decorrer da intervenção os pais relataram uma redução significativa nas dificuldades de vinculação, bem como na redução dos sintomas de Stress pós-Traumático e das dificuldade emocionais e comportamentais exibidas pela criança.
De entre os estudos considerados outras técnicas e intervenções psicoterapêuticas foram consideradas como Terapia de Sistemas de Trauma, Psicologia Positiva, EMDR, Terapia focada no Sistema Familiar e Parental, entre outros.
De um modo geral, compreende-se a importância do apoio psicoterapêutico como indispensável para a promoção do ajustamento psicológico e do bem estar dos sujeitos refugiados, sendo possível observar a eficácia de diversas intervenções disponíveis de aplicação neste contexto, possibilitando assim ao terapeuta uma melhor capacidade de adequar o modelo às características do indivíduo.
Um até já, Psikiko.
BB.
Referências Bibliográficas:
Bronstein, I., & Montgomery, P. (2011). Psychological distress in refugee children: a systematic review. Clinical child and family psychology review, 14, 44-56.
Cowling, M. M., & Anderson, J. R. (2023). The effectiveness of therapeutic interventions on psychological distress in refugee children: A systematic review. Journal of Clinical Psychology, 79(8), 1857-1874.
Pacione, L., Measham, T., & Rousseau, C. (2013). Refugee children: Mental health and effective interventions. Current psychiatry reports, 15, 1-9.
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