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Comportamentos Alimentares na Infância

As dificuldades alimentares na infância e adolescência constituem-se como uma das patologias mais comuns durante o período desenvolvimental. Quando falamos de problemas alimentares é necessário considerar a interação entre as características inerentes da criança, bem como os comportamentos das figuras de vinculação, uma vez que a alimentação representa uma das atividades centrais do quotidiano, da cultura e da sociedade. 


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De acordo com Keren (2019), durante a década de 80 as patologias alimentares eram frequentemente associadas a perturbações de vinculação, inclusive segundo o DSM-III. Atualmente vigora uma nova concepção sobre esta temática que, embora estas perturbações possam concorrer, é estabelecido a sua diferenciação como patologias independentes (Keren, 2019).


A qualidade e a experiência alimentar representam a sobrevivência dos indivíduos, influenciando a sensação de segurança, confiança básica, autonomia e autoconceito. Metaforicamente a experiência emocional inerente à alimentação e o valor calórico das refeições potenciam não só práticas alimentares saudáveis, mas também um desenvolvimento adequado e seguro na criança/adolescente. Ainda segundo a autora, o processo de alimentação corresponde a uma interação entre a figura de vinculação e o bebé. Em crianças mais pequenas a dependência é maior face ao cuidador no que diz respeito à qualidade do seu relacionamento e ao desenvolvimento de padrões alimentares saudáveis (Keren, 2019).


Neste sentido, problemas alimentares podem ser observados no contexto de uma relação alimentar específica, uma vez que pode refletir uma dinâmica familiar disfuncional, em que o problema corresponde apenas ao sintoma ou à sua manifestação. Contudo, esta patologia não assenta exclusivamente nas interações relacionais. No fundo podem constituir-se um reflexo das próprias caraterísticas da criança, nomeadamente ao nível de dificuldades de autorregulação, aversões sensoriais, exposição e reação a eventos traumáticos, como também resistência a mudanças ou transições (Keren, 2019).



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Desta forma, no âmbito das perturbações alimentares encontram-se incluídos problemas de alimentação evitantes e/ou restritivos. A Perturbação de Ingestão Alimentar Evitante/Restritiva (ARFID) integrou o DSM-V em 2013 numa versão reformulada da Perturbação Alimentar da Infância e Primeira Infância do DSM-IV. Esta reformulação teve como objetivo a expansão sobre o período em que ocorre a presente patologia, i.e., problemas alimentares podem surgir não só durante a infância, mas em fases de desenvolvimento posteriores (Bourne et al., 2020).


Genericamente a ARFID consiste num padrão alimentar limitado relativamente à variedade (e.g., evitamento de alimentos específicos) e à quantidade, potenciando consequências prejudiciais em termos fisiológicos, psicossociais e clínicos. Por norma indivíduos com esta patologia apresentam um comportamento alimentar evitante ou restrito em função das características sensoriais dos alimentos, receio de consequências aversivas de comer (e.g., vómito, engasgamento) e/ou falta de interesse em comer (Bourne et al., 2020; Thomas & Eddy, 2018 & Kennedy et al., 2018). As repercussõesnegativas associadas ao padrão alimentar patológico, incluem um ou mais dos seguintes: “perda de peso/queda do crescimento, deficiências nutricionais, dependência de alimentação por sonda ou dependência de suplementos densos em energia ou deficiência psicossocial” (Thomas & Eddy, 2018, p.1).


Importa, ainda, referir que apesar das semelhanças presentes na Perturbação de Ingestão Alimentar Evitante/Restritiva com a Anorexia Nervosa ou Bulimia Nervosa, existe uma clara diferenciação entre as mesmas. A distinção predominante assenta no facto dos padrões alimentares evitantes/restritivos não serem motivados por um sofrimento relativo à forma ou ao peso, sendo este o aspeto definidor dessas perturbações alimentares ditas clássicas (Thomas & Eddy, 2018). Ainda na ARFID as preocupações com a magreza, dieta e imagem, na maioria das vezes, encontram-se ausentes ou dentro do quadro normativo. No entanto, na elaboração do plano interventivo é essencial uma visão cautelosa e crítica sobre a orientação a tomar, tendo em conta a diversidade de comorbilidades associadas a esta patologia, podendo desenvolver-se para uma perturbação alimentar como a Anorexia ou Bulimia Nervosa (Kennedy et al., 2018).


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