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Vinculação: a possibilidade de explorar o mundo a partir de um lugar seguro

Aquando do nascimento, a criança não está provida com as competências necessárias para sobreviver sozinha, pelo que as suas necessidades ultrapassam os cuidados físicos, alargando-se a uma necessidade de proteção e apoio afetivo que, à medida que o recebe, lhe vai conferindo um sentimento de segurança (Bowlby, 1969) - este fenómeno remete para o conceito de vinculação.


Os modelos internos que constituem a vinculação (ambivalente, evitante ou segura) começam a ser construídos nos primeiros meses de vida, refletindo a história das interações com as figuras cuidadoras (Fonagy et al., 1992). Uma criança com um padrão de vinculação ambivalente, como o nome indica, estabelece uma relação ambivalente com as suas figuras cuidadoras. Estas demonstram que não estão sempre lá quando o bebé necessita – o que provoca uma sensação de imprevisibilidade na criança. Quando os cuidadores estão presentes e dão a atenção e o cuidado que o bebé necessita, este tem uma reação ambivalente: quer que os cuidadores se mantenham presentes mas ao mesmo tempo quer afastá-los por o terem abandonado anteriormente. Já uma criança com um padrão de vinculação evitante, normalmente possui cuidadores negligentes que não dão o apoio e a atenção que um bebé necessita, e este desenvolve um afastamento emocional e físico dos adultos. Por sua vez, num padrão de vinculação seguro, a criança sente que as suas figuras cuidadoras estão disponíveis para apoiar, acolher e dar atenção quando for necessário, pelo que experiencia uma base segura de onde pode partir e explorar o ambiente que a rodeia, o mundo.


Desta forma, a relação entre a criança e os pais ou figuras cuidadoras assume um papel fundamental no desenvolvimento emocional da criança e do futuro adulto.


Segundo Bowbly (1988), os modelos de vinculação integram mapas cognitivos e representações de esquemas que o indivíduo criou sobre si próprio e o comportamento dos outros, e cuja complexificação tende a aumentar ao longo do desenvolvimento, integrando novas experiências relacionais. Incluem sentimentos, crenças, expectativas, estratégias comportamentais, direção da atenção, interpretação de informação e organização da memória, e caracterizam-se pela capacidade de transformação e de adaptação a novas experiências e contextos ao longo da vida.


A vinculação é assim uma componente essencial das relações humanas, sendo os padrões de vinculação visíveis não só na infância e adolescência, mas também na vida adulta (Bowlby, 1988).


Acresce que parece existir transmissão intergeracional de padrões de vinculação: pais cujos modelos de vinculação foram organizados em torno de respostas pouco satisfatórias dos seus cuidadores, tendencialmente desenvolvem modelos de vinculação menos seguros. Caso estes modelos não sejam reorganizados por outras experiências ao longo da vida, poderão refletir-se na própria relação com os filhos (Bowlby, 1988).


A intervenção afigura-se essencial como forma de diminuir o impacto de uma transmissão transgeracional. A pergunta surge: que elementos constituintes de uma vinculação segura deverão emergir numa relação terapêutica que possa ajudar a diminuir este impacto?


Segundo Siegel (2001) os seguintes elementos deverão estar presentes:

Colaboração - comunicar de forma contingente e utilizar o não verbal, construindo uma partilha colaborativa da relação;

Diálogo Reflectivo - comunicar verbalmente experiências emocionais ou mentais, dando significado às experiências;

Reparação - ensinar a possibilidade de reparação da ruptura: existem rupturas, quebras e perdas mas as ligações podem ser criadas novamente;

Coerência Narrativa - ligar o passado, presente e futuro numa narrativa, potenciando a integração flexível de experiências;

Comunicação Emocional - além de partilhar os momentos positivos, é importante manter a ligação nos momentos de emoção desagradável por forma a que a própria pessoa possa aprender que não será abandonada nestes momentos.


Ao integrar estes aspectos numa relação, é aberta a possibilidade de uma nova forma de relacionar, possibilitando a mudança e a exploração do mundo a partir de um lugar seguro, que apoia quando necessário, estabelecendo relações mais harmoniosas e encontrando um maior equilíbrio entre a intimidade e a independência.


 

Referências:

  1. Bowlby, J. (1969). Attachment and loss: Vol. 1. Attachment (2nd ed.). Basic Books.

  2. Bowlby, J. (1988). A secure base: Parent-child attachment and healthy human development. Basic Books.

  3. Fonagy, P., Steele, M., & Steele, H. (1992). Maternal representations of attachment during pregnancy predict the organisation of infant-mother attachment at one year of age. Child Development, 62, 891-905.

  4. Siegel, D.J. (2001). Toward an interpersonal neurobiology of the developing mind: Attachment relationships, “mindsight”, and neural integration. Infant Mental Health Journal: 22, 67-94.

 

Psikikamente, desejo-vos um bom dia!

A.P.

 

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