Pessoas trans são todas aquelas cuja identidade de gênero não se alinha com as normas binárias de masculino e feminino esperadas pela socialmente e atribuídas à nascença tendo em conta o sexo e cujas expressões de gênero poderão ser interseccionais, múltiplas e heterogêneas.
É essencial ter-se em consideração que a identidade de género é um conceito distinto da orientação sexual, ainda que se interrelacionem. Aliás, a identidade de género é independente das expressões de género, orientação sexual e sexo registado à nascença.
As pessoas trans tendem a viver socialmente consoante a sua identidade de género, isto é, como se identificam, independentemente dos procedimentos médicos realizados ou a realizar futuramente. Assim, um homem trans assume como identidade de género ou identifica-se como homem, independentemente do seu sexo à nascença ser feminino, o mesmo acontece com uma mulher trans.
Desde o nascimento, o sexo confunde-se com o género e acarreta expectativas sociais. Isto faz com que, apesar das diferenças entre si, as pessoas trans tenham de lidar com dificuldades e problemas semelhantes, nomeadamente a não coincidência entre o seu sexo e a sua identidade de género, o estigma e a discriminação social. Ademais, a identidade de género pode conceber-se enquanto fator interseccional com as restantes identidades culturais de pessoas transgénero, transsexuais e não-conformantes, dado que as múltiplas pertenças dos indivíduos contribuem para o desenvolvimento da sua identidade de género, e podem sujeitá-los a vulnerabilidades acrescidas.
Esta incongruência leva à vivência de um desconforto intenso constante tanto a nível físico como psicológico e à necessidade de adaptar o próprio corpo à sua identidade, aos papéis sociais e expressões de género. Ainda que não se trate de uma doença mental ou perturbação do desenvolvimento, esta divergência e respetivo sofrimento clinicamente significativo poderão dar origem a disforia de género. Este diagnóstico procura reduzir o estigma e, concomitantemente, acautelar que as pessoas trans têm cuidados clínicos especializados ao seu alcance, segundo o princípio da colaboração e interdisciplinaridade e pela redução de barreiras institucionais.
Para trabalhar com pessoas trans é necessário que se tenha uma intervenção sensível e afirmativa pautada competência profissional específica e que vai além da experiência e formação necessárias ao trabalho com pessoas LGB. Esta especificidade ao nível das aptidões advém do risco acrescido de problemas de saúde física e psicológica e de vulnerabilidade psicossocial da população trans em relação à população geral e até mesmo LGB.
A vulnerabilidade que as pessoas trans vivenciam, como resultado da violência interpessoal e social, estigma, discriminação e preconceito potencia o mal-estar, sofrimento e desenvolvimento de doenças psíquicas e físicas, afetando a sua qualidade de vida. Todos estes fatores de stress superam os vividos tanto pela população geral como pela população LGB e devem ser tidos em conta nas práticas psicológicas, reduzindo-se os riscos associados.
Neste seguimento e para que os psicólogos adquiram as competências necessárias, é essencial a aceitação da diversidade de identidades de género dado que o género é um construto não-binário que pode não ser congruente com o sexo/identidade atribuída à nascença, e que o binarismo limita a expressão das múltiplas identidades de género abrangidas pela diversidade sexual.
Assim, os psicólogos devem criar condições para as pessoas trans exercerem o seu direito à autodeterminação da sua identidade de género, de acordo com o princípio da autonomia e integração, estando conscientes do modo como os seus conhecimentos e atitudes podem influenciar as suas práticas e intervenções psicológicas. Os psicólogos devem, ainda, adotar uma atitude responsável e otimizar a inclusão das pessoas trans de modo a não reforçar estereótipos e preconceitos.
Por fim, os Psicólogos devem contribuir para o desenvolvimento e otimização dos serviços e das respostas especializadas às pessoas trans, melhorando a qualidade de vida e fomentando mudanças legislativas e institucionais, assim como dos serviços sociais e de saúde que lhes são prestados. Para tal, os psicólogos devem divulgar boas práticas de intervenção com esta população de forma ativa e com recurso à investigação científica, ensino e supervisão, publicação de textos informativos e/ou documentos científicos.
Estas irão contribuir para a formação de competências sensíveis à diversidade e para a redução do estigma, preconceito e da discriminação das pessoas trans, que afetam a saúde e bem-estar das pessoas trans.
Saudações Psikikas.
C.T.
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