Os termos divórcio e separação sugerem mal-estar e sofrimento, o fim de uma era, uma promessa, uma vida. A separação e o divórcio representam uma das transições mais significativas e desafiadoras na vida de um indivíduo. No entanto, nem sempre o divórcio tem de significar uma “coisa má”, podendo surgir enquanto sensação de alívio, ainda que dolorosa.
Atualmente o casamento é cada vez mais associado a uma escolha entre duas pessoas e à sua liberdade individual, surgindo como a procura da felicidade no amor e tendo sempre a possibilidade de voltar atrás no caso desta não ser encontrada. Ainda assim, o crescente número de divórcios resulta numa profunda mudança do conceito de família.
Independentemente das razões que originam a separação, este é um evento emocionalmente desafiador que apresenta repercussões ao nível familiar, psicológico e emocional que podem afetar profundamente as pessoas envolvidas, especialmente quando há filhos.
Como qualquer separação, o divórcio é um evento traumático para a família, pois, além de poder reativar situações traumáticas vividas precocemente, expõe o casal a um elevado número de perdas significativas. Apesar de o divórcio tornar-se cada vez mais frequente e aceite, este surge enquanto nova etapa no ciclo de vida familiar, cuja aceitação social não faz dele menos doloroso.
Assim sendo, trata-se de uma rutura que não altera unicamente a dinâmica familiar e social, mas que apresenta profundas implicações emocionais e psicológicas. Nesse sentido, a psicologia desempenha um papel crucial na compreensão e gestão dos aspetos emocionais dessas situações complexas, nomeadamente, os seus impactos psicológicos.
Uma das principais áreas de preocupação nos casos de separação é o impacto emocional nos adultos e, especialmente, nas crianças, podendo recorrer-se à terapia individual, terapia familiar ou grupos de apoio.
Para os adultos, estas ruturas desencadeiam frequentemente um conjunto de emoções intensas, como culpa, raiva, ansiedade, tristeza e medo do desconhecido. A psicologia oferece um espaço seguro para que os indivíduos possam explorar esses sentimentos e, desta forma, ajuda-os a desenvolver estratégias saudáveis para lidar com o processo de separação e adaptação a uma nova realidade.
No caso das crianças, a separação dos pais pode ser uma fonte significativa de confusão emocional e stress. As crianças podem sentir-se ansiosas, culpadas, zangadas e ainda abandonadas no meio de toda a situação. A psicologia infantil capacita-se de abordagens para ajudar as crianças a compreender e processar as suas emoções, assim como estratégias para lidarem com as mudanças na dinâmica familiar.
A tomada de decisão de terminar um casamento não é simples, especialmente aquando a existência de filhos, no entanto, ao arrastar esta decisão as crianças são confrontadas com um período conturbado de conflitos e infelicidade dos pais. Por sua vez, os pais não se demonstram tão eficientes em responder às carências dos filhos visto estarem consumidos pelos próprios problemas. No meio da mudança de papéis e estrutura familiar a criança depara-se com a perda dos cuidadores que não estão disponíveis física e emocionalmente. Neste sentido, alguns autores declaram que crianças que experienciam a separação, tendem a narrar sentimentos de afastamento de ambos os pais
Ademais, a psicologia desempenha um papel fundamental na mediação e resolução de conflitos durante todo o processo de separação e divórcio. Os psicólogos especializados em terapia familiar e mediação podem ajudar os casais a comunicarem de um modo mais eficaz, a negociarem acordos equitativos e a minimizarem o impacto negativo que o divórcio apresenta nas crianças.
Outro aspeto crucial da psicologia é o processo de ajuste e adaptação a uma realidade pós-divórcio. A psicologia fornece recursos e estratégias para os adultos reconstruírem as suas vidas e desenvolverem relações saudáveis após a separação, o que pode incluir trabalhar a autoestima, adquirir competências e habilidades para uma comunicação mais eficaz, estabelecer limites saudáveis e criar um ambiente de apoio emocional.
Em suma, a separação e o divórcio são eventos complexos que podem ter um profundo impacto emocional em todos os envolvidos. Nestes acontecimentos, a psicologia desempenha, uma vez mais, um papel vital na compreensão e gestão do impacto, dando apoio emocional, estratégias e ferramentas para a reconstrução de vidas saudáveis e significativas após a separação. Com recurso a uma abordagem sensível e empática, a psicologia ajuda os indivíduos e as suas famílias a navegarem pelas ondas da mudança e a encontrarem um novo equilíbrio emocional e psicológico nas suas vidas pós-divórcio.
Saudações Psikikas.
C.T.
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