Os temas que dizem respeito a parentalidade são cada vez mais abordados nas conversas do quotidiano e diversas abordagens tem sido desenvolvidas desde então. Sabe-se que a parentalidade está associada a inúmeros desafios e, com tanta literatura desenvolvida, torna-se difícil perceber qual o caminho a seguir. É nesse sentido que surge este texto, para o ajudar a compreender como lidar com os seus filhos (ou crianças no geral) de uma forma simples, com base na ciência e em autores reconhecidos no tema.
Uma das maiores dificuldades relatadas pelos pais em sessão é a definição de regras e estabelecimento de limites. Naturalmente a infância e inicio da adolescência são fases de vida desafiantes, contudo importa ressalvar que grande parte dos comportamentos exibidos não são mais do que a procura por autonomia. Segundo aponta a investigação, para que a criança desenvolva sentimentos de segurança e tranquilidade é imprescindível a aplicação de limites e regras de forma consistente.
Ora, é também importante considerar que o protesto e a birra fazem parte do desenvolvimento, e é ao testar limites que a criança aprende a diferença entre comportamento adequados ou desadequados, mediante a resposta exibida pelos pais consistentemente. Se a criança constatar que, mediante um determinado comportamento seguem-se consequências negativas de uma forma consistente, então a tendência será a de suprimir esse mesmo comportamento.
Uma das questões que dificulta a vida dos pais e também a das crianças é o número de ordens que são dadas. A maioria dos cuidadores não se apercebe da quantidade de regras que usa no seu dia a dia, e curiosamente, a ciência comprovou que os filhos de pais que recorrem excessivamente às ordens têm mais problemas de comportamento. Isto acontece porque a criança tem dificuldade em compreender quais são as regras ou ordens importantes e quais as que se podem quebrar, gerando um estado de confusão e desregulação. Nesse sentido, a estratégia passa pela compreensão, por parte dos pais, dos limites que consideram importantes e sobre as quais estão dispostos a aplicar consequências em caso de desobediência. Os autores compreenderam que na realidade a lista de ordens importantes é bastante mais reduzida e que, após a aplicação desta estratégia, há uma redução significativa de ordens necessária o que, por sua vez, vai facilitar a compreensão por parte dos seus filhos de quais as regras que são importantes e deve cumprir.
Quando falamos de estabelecimento de limites, devemos ter em conta a idade da criança, isto é devemos apropriar os limites à sua capacidade de execução (por exemplo não podemos esperar que uma criança de três anos seja capaz de fazer corretamente a cama).
Adicionalmente, importa considerar que os limites devem ser dados uma de cada vez e espaçosamente para que a criança tenha a possibilidade de as desempenhar. O problema cometido na maioria dos casos é o encadeamento de limites que pode ocorrer por serem dados em grande quantidade à criança num mesmo momento ou pela repetição do mesmo diversas vezes. A primeira situação não fornece tempo à criança para executar cada tarefa, o que se torna confuso, podendo desencadear a desregulação, tanto pelo facto da criança não conseguir corresponder a tudo como por não haver reforço. A segunda pode gerar vulnerabilidades devido ao nível de atenção gerado pela repetição constante, isto é, se os pais repetem a mesma coisa cinco vezes, os filhos podem inferir que só vale a pena corresponder à quinta vez, promovendo ao desenvolvimento de situações de conflito.
Por vezes acontece os pais sentirem-se culpados por estarem a colocar limites ao filho fazendo algo que não é de sua vontade e, como forma de aliviar o sentimento de culpa acabam por não fornecer orientações claras do que esperam do comportamento do filho, por exemplo:
“o pai comenta ao olhar pela janela: filho/a estou a ver que a bicicleta ainda está lá fora” em vez de “ Filho, vai arrumar a bicicleta”- é mais difícil que a criança obedeça a uma afirmação do que a um limite claro.
Um dos pontos chave é que a criança compreenda que o que lhe está a ser dito é um limite. Para isso é necessário que o mesmo seja feito na afirmativa, distinguindo-se claramente do que é um pedido ou uma pergunta. Um pedido implica haver a possibilidade de fazer ou não o solicitado, uma pergunta pode sempre resultar num não como resposta.
A parte mais desafiante, sobretudo após um dia longo de trabalho e stress, é conseguir estabelecer limites eficazes e com amor, sem se zangar, todavia está provado que o tom de voz mais agressivo ou sarcástico resulta num aumento de comportamentos de oposição e desafio por parte da criança que se torna mais reativa e menos colaborante. Convém recordar que a autoestima da criança é uma dimensão sempre a ser preservada aquando se estabelecem limites organizadores e, por isso, os limites devem ser transmitidos de forma positiva e respeitosa de modo a obter não só a colaboração da criança como a promoção de valores e principios pessoais e sociais.
Estamos aqui, na PSIKIKA, para o ajudar.
91 425 07 10
Um até já PSIKIKO,
BB.
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