Ao longo dos anos os investigadores compreenderam a existência de uma relação entre os problemas de aprendizagem e problemas de internalização como é o caso da ansiedade e da depressão. Foi possível observar que crianças e jovens com diagnóstico depressivo experienciam conjuntamente algumas dificuldades ao nível da aprendizagem e neuropsicológicas como é o caso da memória e atenção. Sendo salientado pelos autores a dificuldade em compreender qual das patologias determina a outra pela relação bidirecional existente entre ambas.
Segundo aponta a literatura, a depressão pode resultar num rendimento escolar inferior em crianças capacitadas do ponto de vista intelectual sem que se verifique a existência de um problema específico da aprendizagem. Os autores referem um conjunto de comportamentos/ sintomas frequentes como o aborrecimento, cansaço, envolvimento em comportamentos antissociais que surgem na tentativa de sentir alguma excitação e afastar “sentimentos sombrios”. Neste seguimento referem ainda a importância da relação estabelecida com as figuras parentais, enfatizando a predisposição genética ou a falta de capacidade dos mesmos para o reconhecimento e identificação de sintomatologia depressiva na criança.
Assim, hipotetizam que pais mais atentos e envolvidos no desenvolvimento da criança/jovem tendem a obter uma maior perceção das dificuldades exibidas quer a nível de sintomatologia depressiva, quer ao nível das dificuldades de aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem, podem englobar Perturbações da Aprendizagem Específica - Leitura, Escrita, Matemática, ou Perturbações de Défice de Atenção e Hiperatividade, dificuldades mnésicas ou comportamentos desadaptados em contexto escolar (como sendo dificuldade no cumprimento de regras, dificuldade de relacionamento com os pares ou professores, comportamento agressivo, etc). Nesse sentido, os investigadores referem que estas resultam da diminuição da energia e capacidade de atenção na criança deprimida, sendo mais frequentemente atribuídas do que o diagnóstico de depressão.
A comorbilidade entre os problemas de aprendizagem e a depressão é frequente, verificando-se uma tendência para uma diminuição da auto-estima e noção de valor pessoal que incrementa, por sua vez a sintomatologia depressiva. Hipotetizando que atuando perante a sintomatologia depressiva, irá observar-se uma diminuição significativa ao nível dos problemas de aprendizagem exibidos pela criança ou jovem.
Considerando que a depressão durante a infância ou adolescência acarreta um impacto prejudicial a nível pessoal, social, ocupacional em termos de cognição, afeto, comportamento, estado somático e ajustamento interpessoal, a intervenção psicológica é
considerada um tratamento de primeira linha de atuação imprescindível para a diminuição da sintomatologia depressiva, bem como a promoção de um desenvolvimento saudável e adaptado.
Do ponto de vista da intervenção psicológica, torna-se essencial a compreensão dos fatores inerentes à manifestação dos problemas exibidos pela criança ou jovem, torna-se imprescindível a compreensão aprofundada junto dos pais e, no caso do jovem do mesmo, não só das principais queixas (problemas), como dos fatores precipitantes que levaram ao surgimento da sintomatologia apresentada. A formulação de caso e a compreensão dos fatores predisponentes e de manutenção da problemática, assim como a identificação de fatores protetores que servirão como recurso para o incremento da capacidade do jovem para ultrapassar as dificuldades apresentadas, são parte fulcral do processo terapêutico e assumem-se essenciais ao delineamento de uma intervenção individualizada, independentemente da abordagem utilizada no processo terapêutico.
Considerando a literatura, existem alguns exemplos de Intervenção com recurso a Terapia Cognitivo Comportamental onde são referidas diversas fases de intervenção (em pré-adolescentes e adolescentes). A primeira fase que diz respeito a psicoeducação e automonitorização se sintomas; segunda fase que passa pela ativação comportamental e promoção de suporte; terceira fase baseada na reestruturação cognitiva, promoção de otimismo e das competências pessoais e a quarta fase onde se efetua a prevenção da recaída e a alta clínica. Contudo apesar de demonstrar melhorias significativas ao nível da sintomatologia exibida, a Terapia Cognitivo-Comportamental pelo foco no sintoma e pela elaboração de uma intervenção a curto médio prazo, pode não apresentar resultados a longo prazo ao nível da melhoria e qualidade de vida em sujeitos que evidenciam níveis de pertubação depressiva mais severa.
A identificação das necessidades do cliente, bem como os recursos disponíveis são essenciais à sua prática profissional, devendo o psicólogo compreender se a sua abordagem e tipo de intervenção se adéqua à problemática do cliente. Sugerindo sempre que necessário o encaminhamento para outro profissional que sirva esse efeito.
Um até já, Psikiko.
BB.
Referências Bibliográficas:
Colbert, P., Newman, B., Ney, P., & Young, J. (1982). Learning disabilities as a symptom of depression in children. Journal of Learning Disabilities, 15(6), 333- 336.
Fonte, C. & Caridade, S. (2022). Intervenção Psicológica com Crianças e Adolescentes. Pactor, Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação, Lisboa.
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