Atualmente, o perfecionismo é definido como um construto multidimensional, transdiagnóstico e complexo sendo por vezes conceituado como um traço de personalidade. Esta característica integra tanto aspetos positivos (expetativas pessoais altas sentidas como motivacionais e encorajadoras) como negativos (dificuldades de adaptação ao contexto e ambiente, reações desadaptativas ao stress, fator de risco para o desenvolvimento de sintomas e perturbações psicopatológicas).
O perfecionismo surgiu como um construto unidimensional, mas atualmente é conceptualizado como um traço multidimensional da personalidade que integra conteúdo intra e interpessoal e se caracteriza pelo estabelecimento de padrões excessivamente altos e o esforço para atingir essa mesma perfeição, a par de avaliações extremamente críticas da sua performance e/ou comportamento. Dadas as mudanças desenvolvimentais vivenciadas no decorrer da infância e adolescência, estas demonstram-se fases cruciais para o desenvolvimento e consolidação do perfecionismo, pelo que os pais e respetivos estilos parentais têm um papel fundamental.
Ainda que seja necessária mais investigação e não haja um consenso quanto à sua definição, tem-se notado um aumento do perfeccionismo ao longo da adolescência na última década. Mais concretamente, nos últimos 25-30 anos, os níveis de perfeccionismo dos adolescentes aumentaram de forma constante e, em adolescentes australianos, 3 em cada 10 adolescentes evidenciavam perfeccionismo maladaptativo. Dado que o perfeccionismo se associa a maior risco de desenvolvimento de psicopatologias como ansiedade, perturbação alimentar, depressão, comportamentos auto-lesivos, perturbação obsessivo-compulsiva e ideação suicida, entre outros, estima-se que cerca de 25% a 30% das crianças e adolescentes sofram com os seus impactos negativos.
O perfecionismo é descrito como a definição de padrões pessoais rígidos, excessivos e irrealistas associada ao medo de falhar, desproporcionada generalização de insucessos e/ou defeitos e à existência de um pensamento maioritariamente dicotómico. Este é um complexo traço da personalidade que pode evidenciar-se como adaptativo e desadaptativo, consoante as suas consequências, isto é, benéfico ou prejudicial para o desenvolvimento do indivíduo.
Neste seguimento, o perfeccionismo pode ser considerado adaptativo ou saudável quando associado a características positivas como a autodisciplina, organização, persistência, responsabilidade, procura por realizações e resistência. Este resulta na definição de padrões e expectativas pessoais com o intuito de se destacar no desempenho, sentidos como motivacionais e que não resultam em perturbações e dificuldades intra e/ou interpessoais aquando da existência de falhas/erros na sua correspondência. Contrariamente, o perfeccionismo pode ser considerado desadaptativo ou não-saudável quando associado a uma elevada disparidade entre a expetativa do sujeito e a autoavaliação que faz da sua performance, sendo esta demasiadamente crítica. Este resulta em preocupações exageradas com a possibilidade de cometer erros, estratégias de coping desadaptativas, sofrimento emocional, crenças disfuncionais, ansiedade e baixa autoestima e a diversas perturbações psicológicas.
Após uma análise aos aspetos pessoais e sociais do perfeccionismo duas dimensões em que este difere com base na sua motivação, nomeadamente o perfeccionismo auto-orientado e o perfeccionismo socialmente prescrito.
O perfecionismo auto-orientado trata-se de uma dimensão intrapessoal mais adaptativa e saudável, isto é, diz respeito à motivação interna para a criação de padrões pessoais excessivamente elevados, autoavaliações e autocríticas rigorosas dos comportamentos com foco nas falhas e/ou erros pelo desejo de atingir a perfeição. Ainda assim, esta dimensão pode levar o individuo a adotar padrões exageradamente altos, resultando em autocrítica e autopunição aquando de situações em que não alcance o nível que deseja.
O perfecionismo socialmente prescrito diz respeito a uma dimensão interpessoal cuja motivação é fundamentalmente externa dado que os indivíduos têm a perceção de que os outros impõem exigências irrealistas e perfecionistas em relação a si, sentindo-se pressionados a corresponder para que fiquem satisfeitos. Assim, os sujeitos procuram atingir a perfeição como forma de obter a consideração dos outros, tendo a crença de que o respeito destes se encontra dependente da sua performance. Trata-se, então, da dimensão mais desadaptativa do perfeccionismo.
Por fim, importa realçar a relevância da investigação relativa ao perfecionismo, assim como dos respetivos fatores preditores, protetores e de manutenção, uma vez que esta dimensão está intrinsecamente associada ao sofrimento psicológico e demais problemáticas de saúde mental. Ademais, trata-se de um construto de extrema complexidade e que evidencia um elevado impacto negativo no desenvolvimento de psicopatologias, apresentando valores cada vez mais elevados na população infantojuvenil, o que afeta o normal desenvolvimento socioemocional dos indivíduos.

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