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Hide and Seek – Análise e Reflexão do Filme

(Esta análise contém spoilers)

            Hide and Seek (2005) é um filme norte-americano classificado como terror e thriller.


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O filme é protagonizado por Robert De Niro, no papel de David, um psicólogo de meia-idade.


David vê a sua vida mudar drasticamente quando, na noite de 1 de janeiro, a sua mulher, Laura, se suicida após ter ido deitar a filha. Laura é encontrada nessa noite por David e pela filha Emily, na banheira com os pulsos cortados. Perante tal tragédia, David decide mudar-se com Emily para uma cidade mais calma, procurando um recomeço.



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Na nova casa, Emily, claramente perturbada pela morte da mãe, começa a referir que tem um amigo chamado Charlie, com quem joga às escondidas (“hide and seek”), e adota comportamentos cada vez mais estranhos e de oposição ao pai. Além disso, David começa a acordar quase todas as noites às 2h06 da manhã, a mesma hora em que encontrou a sua mulher. Nesses momentos, depara-se com a casa de banho com a banheira cheia de água, velas acesas e frases escritas na parede, tal como na noite do suicídio. As mensagens, inicialmente escritas com canetas da filha, vão-se tornando progressivamente mais inquietantes, passando a aparecer escritas com sangue.


Neste ponto, o filme parece seguir a linha típica de outros filmes de terror, sugerindo que a casa possa estar habitada por uma entidade espiritual que apenas Emily consegue ver. Contudo, o que torna este filme especialmente interessante é o plot twist final: Charlie, o suposto amigo imaginário de Emily, é na verdade David, ou melhor, uma segunda personalidade de David. Quando ele finalmente se apercebe disso, recorda-se de que foi ele que assassinou a mulher, depois de descobrir que essa o traía. Todas as situações assustadoras na casa tinham, afinal, sido provocadas por ele, sem que se apercebesse e, sem que nós espectadores dessemos por isso.


No final, a personalidade de David parece desaparecer, restando apenas Charlie, um psicopata que tenta matar a filha. No entanto, Emily consegue escapar e acaba por ser entregue aos cuidados de uma amiga do pai, Katherine. O filme termina com um desenho onde aparece Katherine e Emily com duas cabeças, sugerindo que também essa poderá ter desenvolvido uma segunda personalidade como o pai.


Através da análise da personagem David, tudo indica que este sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade. Esta perturbação é caracterizada pela presença de duas ou mais identidades ou estados de personalidade distintos, que assumem alternadamente o controlo do comportamento do indivíduo, sendo geralmente acompanhada por episódios de amnésia. Para além disso, podem ocorrer sintomas como flashbacks, pensamentos e emoções intrusivas, despersonalização e desrealização. A origem desta perturbação poderá estar relacionada com a exposição a eventos traumáticos, sendo frequente que estes indivíduos apresentem sintomas de stress pós-traumático ou níveis elevados de stress e ansiedade. A dissociação surge, assim, como um mecanismo de defesa perante experiências demasiado difíceis ou perturbadoras para serem integradas de forma consciente.



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No caso de David, coloca-se em hipótese que esta perturbação poderá ter sido despoletada pelo conhecimento de que a sua mulher o traía, levando-o a matá-la. Contudo, ao longo do filme vão sendo deixadas pistas que demonstram que a sua infância, poderá ter sido difícil, o que nos leva a pensar se poderia haver uma maior suscetibilidade.


A par disso, a personalidade Charlie manifesta traços de psicopatia, assumindo um comportamento violento, manipulador e sem empatia, o que poderá indicar que esta identidade surgiu como uma forma extrema de proteger David da culpa e da dor associadas aos seus atos, tendo em conta que esse se aparenta como um homem calmo, ponderado e compreensivo. O desconhecimento da existência de Charlie até ao final do filme revela o grau profundo da dissociação, já que todas as ações cometidas por esta identidade são esquecidas ou negadas pela personalidade principal. Esta fragmentação do Eu impede David de integrar a realidade do que viveu e do que sente, mantendo a sua dor encapsulada na figura de Charlie.



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Por fim, o final do filme sugere que este ciclo poderá repetir-se na filha, como indicado pela sua auto-representação com duas cabeças no desenho. Esta simbologia pode ser interpretada como um indício de que, também ela, poderá estar a desenvolver uma perturbação dissociativa, refletindo o impacto de todo o trauma vivido, desde a morta da mãe à violência do pai. É importante salientar, que tal não implica uma origem genética da perturbação, mas antes a possibilidade de esta surgir como o mesmo mecanismo de defesa, que foi inconscientemente assimilado na relação com o pai. Para além disso, ao longo do filme são também visíveis alguns traços emergentes de Perturbação de Personalidade Antissocial, em comportamentos como o magoar insetos ou mutilar as suas próprias bonecas. 


Em suma, Hide and Seek é um thriller psicológico envolvente que levanta questões sobre os limites da mente humana, o impacto do trauma e a complexidade das perturbações mentais.


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Estamos aqui, na PSIKIKA, para o ajudar.

91 425 07 10




Um até já PSIKIKO,

BB.


Tags: Hide&Seek; Transtorno Dissociativo da Identidade; Psicologia; Filme; Thriller Psicológico.



Referências

Dell, P. F. (2006). A new model of dissociative identity disorder. Psychiatric Clinics29(1), 1-26.

Dorahy, M. J., Brand, B. L., Şar, V., Krüger, C., Stavropoulos, P., Martínez-Taboas, A., ... & Middleton, W. (2014). Dissociative identity disorder: An empirical overview. Australian & New Zealand Journal of Psychiatry48(5), 402-417.

Fuady, D. R. (2019). an Analysis of David and Emily Callaway’S Psychopath Problems in Hide and Seek Movie Viewed From Sigmund Freud’S Psychoanalysis Theory. Journal of English Language and literature4(2).

 

 

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