A ansiedade é uma emoção natural, que acompanha o individuo no seu quotidiano, geralmente caracterizada por insegurança, preocupação, tensão. Pode estar associada a sintomas fisiológicos como aumento da frequência cardíaca e de pressão arterial, tonturas, sudações, etc. Contudo, quando é persistente, em diversos contextos ou situações de vida, e impacta de modo significativo a vida do sujeito, pode assumir-se a presença de uma perturbação ansiosa que interfere com o seu bem-estar.
Segundo aponta a literatura, as perturbações de ansiedade são diversificadas sendo as mais frequentemente identificadas a obsessivo-compulsiva, stress pós traumático, pânico, ansiedade generalizada, agorafobia, ansiedade social e ansiedade de separação.
Nos últimos tempos, tem vindo a verificar-se um aumento a prevalência desta patologia, independentemente da faixa etária. Nesse sentido o estudo de temas relacionados com a ansiedade tem vindo a diversificar-se de modo a desenvolver respostas adequadas a nível de tratamento.
As investigações revelam a existência de uma predisposição genética/ biológica no desenvolvimento de perturbações de ansiedade, assim torna-se imperativo compreender de que modo a ansiedade parental impacta o desenvolvimento da criança, bem como influencia o desenvolvimento/manifestação de sintomas na mesma.
Segundo aponta a literatura, a modelação parental e a relação pais-criança estabelecida é apontada como uma característica relevante e que deve ser tida em conta no desenvolvimento e perpetuação da ansiedade. Nesse sentido, a interação que ocorre entre a díade deve ser vista como um processo mutuamente regulado, em que ambas as partes contribuem para o estabelecimento da interação.
Nos estudos desenvolvidos é demonstrado que pais ansiosos tendem a ser mais controladores, menos afetuosos, mais críticos e tendem a exibir menos comportamentos parentais positivos. Do mesmo modo, apontam que tendem a ver a criança de um modo mais negativo e desajustado, a sobrestimar o nível de sofrimento ao mesmo tempo que subestimam a sua capacidade de copping e de adaptação a situações potencialmente disruptivas e geradoras de ansiedade. Ao manifestar estes comportamentos, e perante esta incapacidade de ler corretamente a situação e as necessidades da criança, os pais acabam por modelar estratégias de copping desadaptadas e estilos de interação negativos.
Ainda no que diz respeito à modelação parental, surgiu a necessidade de compreender de modo mais aprofundado a influência de determinados comportamentos parentais no desenvolvimento e exibição de ansiedade na criança. Congruente com o que foi referido anteriormente, autores referem que pais ansiosos tendem a exibir não só comportamentos de superproteção como supercontrolo, envolvimento excessivo e intrusividade nas atividades relacionadas com a criança.
O envolvimento excessivo é caracterizado pela interferência nos comportamento e sentimentos exibidos pela criança, desencorajando a sua independência e autonomia.
Pais que evidenciam estas características tendem a prestar mais apoio do que é necessário, podendo levar ao desenvolvimento de ansiedade pelo aumento da perceção de risco, o que impacta a capacidade de perceção adequada perante o estimulo exibido e reduz as oportunidades de explorar o ambiente que a rodeia e, consequentemente, desenvolver capacidade de lidar com o desconhecido.
Recentemente a literatura considera também a emergência de comportamentos parentais desafiantes em relação à criança. Estes são caracterizados pelo encorajamento por parte dos pais para integrar situações de pontencial risco (que saem da zona de conforto da criança) ao mesmo tempo que ativa o estado de alerta dos mesmos tanto a nível fisico como emocional. Neste seguimento a situação ambígua observada pela criança pode estar na origem da ansiedade, uma vez que a incerteza impera perante a atitude parental.
Considerando as principais características parentais que influenciam o desenvolvimento de ansiedade na criança, seria útil considerar possíveis intervenções para a mesma.
Seria importante ponderar a necessidade de apoio psicológico para as figuras parentais, uma vez que é nestas que reside a fonte de ansiedade e se assumem como figuras modeladoras. Neste sentido, a literatura refere algumas técnicas aprendidas em contexto terapêutico como a implementação de hábitos que permitam reduzir estados de ansiedade, nomeadamente técnicas de relaxamento, mindfulness e meditação, gestão e organização de tempo adequada, comunicação regular e eficaz com outros (familiares, colegas de trabalho, terapeuta).
Os investigadores salientam ainda a necessidade de rotinas de sono adequadas, uma vez que dormir bem se torna essencial para a diminuição da ativação das hormonas de stress, potencia a concentração e melhora o humor e disposição do indivíduo. Em casos mais severos, por vezes é recomendado o recurso a fármacos, contudo este tipo de tratamento deve ser cuidadosamente acompanhado e sempre que possível conciliado com o acompanhamento psicológico.
Mediante a intervenção adequada a nível parental, caso os sintomas da criança persistam, esta deve ser avaliada de modo a compreender a necessidade de intervenção e equacionar a necessidade de apoio psicológico.
Um até já, Psikiko.
BB.
Bibliografia:
American Psychological Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5). Philadelphia: American Psychiatric Publishers 2013.
Möller, E. L., Majdandžić, M., & Bögels, S. M. (2015). Parental anxiety, parenting behavior, and infant anxiety: Differential associations for fathers and mothers. Journal of Child and Family Studies, 24, 2626-2637.
Schrock, M., & Woodruff-Borden, J. (2010). Parent-child interactions in anxious families. Child & Family Behavior Therapy, 32(4), 291-310.
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