A partir dos 18/24 meses é muito frequente as crianças começarem as famosas “birras”. No entanto, o termo “birra” acaba por apresentar uma conotação negativa. Talvez fosse melhor chamarmos-lhe “desregulação”. É importante perceber que todo o comportamento tem uma função, pretendendo comunicar algo. Neste caso, as crianças podem-se sentir frustradas, insatisfeitas, etc…
Quando uma criança chora, grita, esperneia, é um sinal de que o seu cérebro não está a conseguir lidar com os estímulos (externos, mas também internos). Existe uma “desregulação” do sistema, uma “explosão de stress” com a qual a criança não consegue lidar sozinha. Trata-se de uma reação incontrolável, sendo que a “birra” é uma forma de descarga dessa tensão.
NÃO É “MÁ EDUCAÇÃO” ----- NEM “MANIPULAÇÃO”
Trata-se de um processo natural e fisiológico (e, por isso, presente em todas as crianças e seres humanos), sendo involuntário e “instintivo”, não se tratando de uma decisão consciente. Nestes momentos, o mais importante é perceber qual é a necessidade da criança que não está a ser satisfeita, sendo que ela necessita de um adulto para se conseguir regular e voltar a ficar calma, uma vez que as crianças ainda não possuem mecanismos que as ajudem a lidar com as suas emoções e frustrações.
A regulação emocional não é sobre não sentir. Nem sobre ter um controlo (rígido) sobre o que sentimos. também não é negar as emoções (de valência emocional) negativas e apenas sentir as "positivas". A regulação emocional começa dando-nos permissão a nós e às nossas crianças de sentirmos tudo o que vai dentro de nós.
Não aprendemos o que é regulação emocional nem formas mais sofisticadas sozinhos. É impossível estar na companhia de um outro ser humano e não ser influenciado pelo seu estado emocional. Esta co-regulação é o antecessor da autoregulação, por isso, as crianças aprendem não só com o que veem, como com o que sentem na presença do outro.
Assim, como podemos ajudar as crianças a “regularem-se”?
1. Aceite que sente raiva naquele momento. A desregulação da criança desregula-nos a nós. Se percebe que não se vai conseguir acalmar, afasta-te uns segundos.
2. Acalme-se – respire (inspire pelo nariz e expire pela boca); beba água; conte até 10; distraia o cérebro com outra coisa, etc…
3. Assim que se sentir capaz, mude a criança de contexto (se está na sala leva-a para o quarto; se estiverem num sítio público vá para onde tenham privacidade);
4. Baixe-se ao nível da criança e olhe-a nos olhos
5. Valide o que a criança está a sentir. Fá-la sentir-se ouvida. Dê nome àquilo que lhe parece ser o que a sua criança está a sentir (“Ficaste mesmo triste porque…, não foi?”). Fale num tom de voz tranquilo, de forma a transmitir calma e segurança.
6. Acalme a criança, distraindo-a e oferecendo opções (“não temos a colher amarela, mas temos a azul e a vermelha, qual gostas mais?”)
7. Conforte a criança como ela gostar mais (ex. colo, beijinhos, etc…). Se ela não quiser, diga-lhe que está ali quando ela precisar.
Se, ainda assim, sente que está a ter dificuldade em lidar com as “birras” da sua criança, deve procurar um profissional na área da saúde mental, nomeadamente um psicólogo infantil, de forma a que a sua criança consiga aprender a regular-se e a lidar com as suas emoções da melhor forma, com a ajuda de um profissional, contribuindo para um melhor bem-estar emocional.
Com um até já Psikiko!
J.C.
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