As características individuais do sujeito, nomeadamente os seus traços de personalidade têm um impacto direto no comportamento exibido no seu dia-a-dia. Contudo além destes fatores disposicionais, também fatores externos influenciam o modo como se comporta e como reage a situações que ocorrem no seu quotidiano. A influência do contexto familiar, da relação estabelecida com os progenitores/cuidadores e o como esta impacta e pode ser transposta para outros contextos de vida do jovem, tem sido alvo de estudo por parte dos investigadores.
A literatura aponta que relações familiares problemáticas podem estar relacionadas com comportamento desadaptado ou delinquente durante a adolescência, sendo referida uma maior associação em contextos monoparentais, dificuldades conjugais, ausência de controlo parental, comportamento parental pouco eficaz (estratégias de punição severas, estado mental da figura parental alterado), envolvimento em grupos de risco (comportamentos delinquentes) e dificuldades de relacionamento pais-filhos (nomeadamente padrões de vinculação insegura ou evitante).
Neste sentido, os investigadores apontam que as dificuldades relacionais vivenciadas em contexto familiar, podem associar-se a dificuldades no estabelecimento de um modelo de referência, e que conjuntamente com a ausência de um ambiente familiar acolhedor que colocam o jovem em risco de envolvimento em comportamento delinquente.
Deste modo, seria importante definir o comportamento delinquente como a infração de regras morais ou condutas convencionadas numa sociedade, podendo estas representar-se por roubos, furtos, violência, vandalismo, venda de estupefacientes, uso e porte de armas, entre outros.
Ainda neste seguimento, outros autores focaram a sua investigação no estudo da vinculação parental vivenciada com o desenvolvimento de comportamento delinquente. Apontam três aspetos essenciais da vinculação: identificação afetiva, intimidade e comunicação e supervisão como os aspetos fundamentais para o estabelecimento de uma vinculação segura, que se assume como um fator protetor. Contudo, outras investigações mencionam outras características importantes, nomeadamente interesse, preocupação, ajuda, cuidado, confiança, encorajamento, ausência de rejeição, contacto físico de proximidade, interações frequentes, comunicação positiva e identificação parental.
As investigações desenvolvidas demonstram que a delinquência juvenil se caracteriza como um fenómeno de grupo que resulta de um conjunto de características exibidas pelos jovens pertencentes ao mesmo, geralmente constituído por uma hierarquia, onde cada elemento detém uma função e lugar em relação a outro, elevada coesão social e um padrão comportamental que tem como base a rejeição dos valores e experiências dinamizadas pelos adultos. Assim, o comportamento delinquente surge como um modo de imposição, que recorre ao uso de violência e agressividade como estratégia preferencial de resolução de conflitos e problemas interpessoais.
Nesse seguimento, a literatura aponta um conjunto de características parentais que potenciam o desenvolvimento e manutenção de comportamentos desadaptados, referem que a indiferença parental, hostilidade e rejeição perante a criança origina sentimentos emocionais de insegurança que, consequentemente, se relacionam com um desenvolvimento das características de personalidade empobrecidas.
Os mesmos autores referem ainda que o recurso a um estilo parental autoritário, onde se exerce controlo excessivo, regras e estratégias de punição severas, influenciam a capacidade de expressão do jovem, que acaba assim por suprimir os seus sentimentos e pensamentos. Estas dificuldades associadas a ausência de expressão de afeto e encorajamento resultam, muitas vezes, num sentimento de revolta vivenciado pelo jovem que pretende assim desvincular-se da sua família, entrando em grupos que compreendam o seu sentir. De um modo geral, pode então compreender-se que atitudes parentais negativas, aumentam sentimentos de insegurança no adolescente que, posteriormente o colocam em risco de desenvolver problemas ao nível de saúde mental ou originar a expressão de comportamento delinquente.
Por oposição, comportamentos parentais mais positivos onde é possível a expressão de afetividade, compreensão, suporte, encorajamento e comunicação promovem competências sociais e comportamentos adaptados por parte do jovem, potenciando o desenvolvimento das capacidades socioemocionais do mesmo.
Do ponto de vista da intervenção psicológica, diversas abordagens são apontadas para a intervenção com jovens que apresentam comportamento de risco ou comportamento delinquente. Independentemente da escola do terapeuta, uma intervenção centrada no indivíduo e nas suas relações interpessoais, a compreensão do seu contexto social e familiar, bem como das atividades de vida diária seria fundamental para o delineamento de um apoio adequado.
No que se refere às técnicas frequentemente apontadas, estas geralmente centram-se na aprendizagem de conflitos e conceitos morais, a aquisição de estratégias adequadas de gestão de conflitos e resolução de problemas, desenvolvimentos de competências de relacionamento adequadas e de comportamento pró-social.
Um até já, Psikiko.
BB.
Bibliografia:
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